A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço!

Martinho Lutero

21/08/2008

Um cadáver para Animais Selvagens




Texto do Teologo e Historiador:John Dominic Crossan



Um pouco de história





Em junho de 1968, o único esqueleto crucificado descoberto foi encontrado em Giv’at ha-Mivtar, no nordeste de Jerusalém, a oeste da estrada Nablus, um túmulo que datava do primeiro século da era comum [depois de Cristo]. Havia quatro túmulos no total, escavados como pequenos quartos no calcário macio, cada um com uma ante-sala e depois uma câmara funerária com nichos suficientemente profundos para acomodar um corpo humano enterrado ao comprido. Esses túmulos foram usados repetidas vezes ao longo de gerações; os ossos, depois da decomposição da carne dentro dos nichos eram enterrados juntos em poços cavados no chão ou, numa alternativa muito mais dispendiosa, eram reunidos em ossuários – caixas de ossos em calcário. Os nichos eram então reutilizados para enterros mais recentes. No complexo de Giv’at há-Mivtar havia quinze desses ossuários, a maioria cheios até em cima e contendo os ossos de 35 pessoas – onze homens, doze mulheres e doze crianças. Desses 35, uma mulher e seu filho morreram juntos no parto por falta de ajuda de parteira; três crianças, uma de seis a oito meses, uma de três a quatro anos, e outra de sete a oito anos, morreram de fome; e cinco pessoas tiveram morte violenta: uma mulher e um homem por queimadura, uma mulher por um golpe de algo como uma maça, uma criança de três para quatro anos por um ferimento de flecha , e um homem entre 24 e 28 anos com 1,65m de altura, morreu por crucificação. Seu nome, inscrito no ossuário, era então Yehochanan, mas agora é I/4A: Túmulo 1, Ossuário 4 (de oito nesse túmulo), Esqueleto A (de três nesse ossuário, ... e o filho de Yehochanan, outra criança de três para quatro anos).

Depois de avaliação e reavaliação por estudiosos do Departamento de Antiguidades de Israel e da Escola de Medicina Hadassah da Universidade Hebraica de Jerusalém, ficou claro o modo de crucificação [desta pessoa]. Seu braços não foram pregados, mas amarrados na travessa da cruz provavelmente com os braços até os cotovelos por cima e atrás dela. Suas pernas foram colocadas de ambos os lados da barra vertical, com pregos segurando os calcanhares na madeira de cada lado. Uma pequena placa de oliveira fora posta a cabeça do prego e o calcanhar para que o homem condenado conseguisse manter o pé afastado do prego. Mas o prego no calcanhar direito atingira um nó na madeira e se curvara, de modo que quando o homem foi retirado, o prego, o pedaço de madeira de oliveira e o osso do calcanhar permaneceram juntos no sepultamento e na descoberta. Por fim, não havia evidência de que as pernas do homem tivessem sido quebradas de pois da crucificação para apressar sua morte por asfixia mais imediata.

Mas por que, com todos estes milhares de pessoas crucificadas em torno de Jerusalém só no primeiro século, encontramos apenas um único esqueleto, naturalmente, preservado em um ossuário? Mencionei anteriormente, por exemplo, que o governador Sírio, Público Quintílio Varo, precisou de três legiões e tropas auxiliares para esmagar revoltas na terra judaica, ... Quando ele chegou em Jerusalém, crucificou, segundo o duplo relato de Josefo ... “dois mil” rebeldes. As crucificações em massa também marcaram o começo e o fim da Primeira Guerra Romano-Judaica. No início do verão de 66 E.C., Floro, então governador romano da terra judaica, ordenou a suas tropas que atacassem dentro da cidade ... [segundo o historiador Flávio Josefo]:

Muitos cidadãos pacíficos foram detidos e levados diante de Floro, que primeiro mandou que fossem açoitados e depois crucificados. O número total de vítimas nesse dia, incluindo mulheres e crianças, ... chegava a cerca de três mil e seiscentos. ... Pois Floro se aventurou nesse dia a fazer o que ninguém havia nem sequer tentado antes, isto é, açoitar diante do seu tribunal e pregar na cruz homens do nível de cavaleiros, homens que, se judeus de nascimento, foram pelo menos investidos com esta dignidade romana.

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