A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço!

Martinho Lutero

11/12/2008

Deus é uma criança




Texto de Leonardo Boff


O Natal é, seguramente, a festa mais popular e universal do cristianismo. É celebrada mesmo naqueles países onde os cristãos são mais ou menos 1% da população, como o Japão e a China. É mais que uma festa cristã: é um espírito. Espírito de fraternidade universal, de encontro de família, de troca de presentes, de desejar Feliz Natal, enviar cartões e votos de Boas Festas e celebrar com uma ceia que congrega a todos na alegria, na luz e num ambiente quase sagrado.

O Natal é importante para as crianças que esperam presentes do Menino Jesus ou do Papai Noel. Os próprios adultos voltam, por um momento, a ser crianças de novo e pensam mais com o coração do que com a cabeça. Então, todos nos lembramos que somos principalmente gente que sente, que se emociona e que acredita que a paz e a alegria são, por um momento, possíveis.

Para os cristãos, o Natal lembra Missa do Galo, os sinos de Belém, a canção Noite Feliz e, principalmente, o presépio – com a manjedoura na qual, entre o boi e o jumentinho, está o menino Jesus, o Filho de Deus que se encarnou em nossa existência frágil e mortal. Se Jesus é o Deus que se fez homem, poderíamos imaginar que deveria ter nascido num lugar elegante, como um palácio, uma mansão confortável ou uma maternidade famosa.

Deus não quis nada disso. Devemos respeitar e acolher o modo como Deus quis entrar neste mundo: quase escondido, participando do destino daqueles que batem à porta, de noite, no frio, com uma mulher grávida, segurando na barriga o filho que está para nascer, e que têm de ouvir estas duras palavras: “Não há lugar para vocês”. Então, José e Maria vão embora e ocupam, na urgência do parto, uma estrebaria vizinha.

Lá havia palha, uma manjedoura, um boi e um burrinho que, com seu hálito, esquentaram o corpinho frágil e tiritante do recém-nascido. O Menino Deus, portanto, entrou silenciosamente neste mundo pela porta dos fundos. Os que habitavam na capital, em Roma ou em Jerusalém, e outras pessoas importantes, nem ficaram sabendo.

Aqui há uma lição a tirar: Deus, quando quer se manifestar, não usa o espetáculo grandioso, mas o silêncio singelo das pequenas coisas. Assim devemos compreender que ele veio para todos, mas de maneira especial para os pobres e simples.

Porque ele nasceu pobre e foi pobre por toda a sua vida, viveu na simplicidade e no despojamento. Se tivesse nascido entre os ricos, deixaria os pobres de fora. Nascendo entre os pobres, está sempre perto deles; e, a partir deles, pode alcançar também os mais bem situados na sociedade. Desta forma, ninguém fica excluído de ser tocado pela presença de Deus.

O Natal tem muitos significados, mas o principal deles é nos dizer que existe uma porção de Deus dentro de cada um de nós. Sendo Jesus seu filho, significa que nós, seus irmãos, também participamos da divindade. Poderia haver dignidade maior do que sermos filhos e filhas de Deus e pertencermos à família divina? Por isso, quando morremos, Deus vem buscar o que é seu e nos leva de volta para casa. Então, o Natal será eterno e todos nós nasceremos definitivamente em Deus.

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