A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço!

Martinho Lutero

22/05/2012

“Preparado para o combate da Fé”




De: C.H.Spurgeon


Crer mais intensamente na Palavra de Deus
 
Pela graça de Deus firmamos o propósito de crer mais intensamente na Palavra de Deus. Há crença, e crenças. Você crê em todos seus irmãos aqui reunidos, mas em alguns deles tem uma confiança real visto que em uma hora de dificuldade, eles o ajudaram e provaram ser irmãos nascidos para a adversidade. Você tem certeza absoluta que pode confiar nestes, pois os testou pessoalmente. Você tinha fé antes, mas agora sente uma confiança superior, mais firme, mais segura. Creia no livro que foi inspirado do início ao fim. Creia em todo ele, completamente, com todas as forças de seu ser. Deixe que as verdades da Escritura se tornem os principais elementos de sua vida, as principais forças operantes em sua ação. Que os grandes relatos da história do evangelho sejam fatos tão reais e práticos como qualquer outro que encontra no ambiente doméstico ou no mundo lá fora, verdades tão vívidas quanto seu corpo presente, com suas dores e sofrimentos, seus apetites e alegrias. Se pudermos deixar a esfera de ficção e imaginação e entrar no mundo real, encontraremos um veio de poder que nos trará um grande tesouro de fortaleza. Assim, tornar-se “poderoso na Escritura” significa se tornar “poderoso por meio de Deus”.


Citar mais a Bíblia Sagrada

Também devemos decidir que vamos citar mais a Bíblia Sagrada. Os sermões devem estar cheios da Bíblia; adoçados, fortalecidos e santificados com a essência da Bíblia. A espécie de sermões que as pessoas precisam ouvir são os que brotam da Bíblia. Se não gostam de ouvi-los, essa é mais uma razão pela qual devem ser pregados para eles. O evangelho tem a singular faculdade de criar o gosto por ele. As pessoas que ouvem a Bíblia de verdade tornam-se amantes da Bíblia. A mera apresentação de textos em conjunto é uma maneira infeliz de fazer sermões; embora alguns o tenham tentado, e não duvido que Deus os tenha abençoado, uma vez que fizeram seu melhor. É muito melhor apresentar os textos, do que despejar os medíocres pensamentos pessoais em uma torrente estéril. Pelo menos, haverá algo sobre o que se pensar e para lembrar se a Palavra Santa for citada; caso contrário, pode não haver nada.

Contudo, os textos bíblicos não precisam ser apresentados em conjunto, eles devem ser apresentados de maneira adequada para trazer agudeza e sentido à mensagem. Eles são a força do sermão. Nossas palavras são meras bolinhas de papel se comparadas com o tiro de canhão da Palavra. A Escritura é a conclusão de tudo. Não há argumento depois que sabemos que “está escrito”. Para a maioria dos ouvintes, no coração e na consciência, o debate está terminado quando o Senhor fala. “Assim diz o SENHOR” é o fim de qualquer discussão para os cristãos; mesmo os iníquos não podem resistir à Escritura sem resistir ao Espírito que a escreveu. Para ser convincentes devemos falar biblicamente.

Pregar apenas a Palavra de Deus
 
Também estamos resolvidos a pregar apenas a Palavra de Deus. Em grande parte, a alienação das massas ao ouvir o evangelho se explica pelo triste fato de que nem sempre é o evangelho que ouvem quando se dirigem aos lugares de culto, e tudo o mais fracassa em fornecer o que suas almas precisam. Será que você nunca ouviu falar de um rei que fez uma série de grandes banquetes e convidou muitas pessoas, semana após semana? Ele tinha um bom número de servos encarregados de servir sua mesa; e, nos dias marcados, estes saíram e falaram com as pessoas. Mas, de alguma forma, depois de um tempo a maior parte das pessoas não vinha às festas. O número de convidados que comparecia era decrescente; a grande massa de cidadãos dava as costas aos banquetes. O rei indagou e descobriu que o alimento providenciado não parecia satisfazer os homens que vinham olhar os banquetes e, por isso, não vinham mais. Ele resolveu examinar pessoalmente as mesas e os alimentos servidos. Viu muita coisa fina e muitas peças expostas que não eram de seus armazéns. Olhou a comida e disse: “Mas o que é isso? Como esses pratos chegaram aqui? Não são do meu suprimento. Meus bois cevados foram mortos, mas não vejo carne de animais engordados, e sim carne dura de gado magro e faminto. Os ossos estão aqui, onde está a gordura e o tutano? O pão também é de má qualidade, onde está o meu que é feito do melhor trigo? O vinho está misturado com água, e a água não é de um poço limpo”.

Um dos presentes respondeu: “Ó rei, achamos que o povo estaria farto de tutano e gordura, assim lhes demos osso e cartilagem para pôr seus dentes à prova. Achamos também que estariam cansados do melhor pão branco, por isso assamos uns poucos em nossas casas, nos quais deixamos o farelo e a casca dos cereais. É opinião dos doutos que nosso alimento é mais adequado a esses tempos do que aquele que vossa majestade prescreveu há tanto tempo. Em relação aos vinhos com borra, o gosto dos homens não é esse na época atual; além disso, um líquido tão transparente como a água pura é uma bebida leve demais para homens que estão acostumados a beber do rio do Egito, cujo gosto é do barro que vem das montanhas da Lua”.

Assim, o rei entendeu porque as pessoas não vinham aos banquetes. Será que esse é o motivo pelo qual a casa de Deus tem se tornado tão desagradável para uma grande parcela da população? Creio que sim. Será que os servos do Senhor têm picado seus restos de miscelâneas e pequenas máculas para com isso fazer uma carne cozida para os milhões de fiéis, e, por isso, estes se afastam? Ouça o resto da minha parábola. O rei indignado exclamou: “Esvaziem as mesas!

 Joguem todo esse lixo para os cães. Tragam os barões da carne, mostrem minha comida real. Tirem essas bugigangas do salão e aquele pão adulterado da mesa e lancem fora a água do rio barrento”. Eles fizeram como o rei mandou, e se minha parábola estiver certa, logo houve um rumor pelas ruas de que verdadeiras delícias reais eram oferecidas ali, o povo encheu o palácio e o nome do rei tornou-se de grande excelência por toda terra. Vamos experimentar esse plano. Quem sabe logo estaremos nos regozijando em ver o banquete do Mestre cheio de hóspedes.

A certeza de sua inspiração
 
Portanto, estamos resolvidos a usar mais plenamente o que Deus providenciou para nós neste Livro, pois temos certeza de sua inspiração. Deixe-me repetir. TEMOS CERTEZA DE SUA INSPIRAÇÃO. Note que, com freqüência, os ataques são contra sua inspiração verbal. A forma escolhida é mero pretexto. Inspiração verbal é a forma verbal do assalto, mas o ataque está realmente apontado à própria inspiração. Você não tem de ler muito do ensaio antes de descobrir que a pessoa que começou a contestar a teoria de inspiração, nunca aceita por nenhum de nós, por fim revela as cartas que tem na mão, e essas cartas travam guerra contra a própria inspiração. Aí está o verdadeiro ponto. Não damos muita importância para qualquer teoria de inspiração: na verdade, não temos nenhuma. Para nós, a plena inspiração verbal da Santa Escritura é fato, não hipótese. É uma pena teorizar sobre um assunto que é profundamente misterioso e exige fé, não imaginação. Creia na inspiração da Escritura, e creia da maneira mais intensa. Você não crerá em uma inspiração mais verdadeira e mais plena do que a que existe de fato. Ninguém pode errar nessa direção, mesmo que haja possibilidade de erro. Se você adotar teorias que tiram um pedacinho aqui, negam autoridade a uma passagem ali, no fim não restará nenhuma inspiração merecedora desse nome.

Esse Livro é infalível
 
Se esse livro não for infalível, onde vamos encontrar infalibilidade? Já desistimos do Papa, pois ele já errou muitas vezes e de maneira terrível; mas em seu lugar não estabeleceremos um bando de papazinhos saídos há pouco da universidade. Esses revisores das Escrituras são infalíveis? É certo dizer que nossas Bíblias não estão corretas, mas que seus críticos estão? A prata antiga deve ser depreciada, mas a prata alemã que a substitui deve ser aceita a preço de ouro. Moleques que acabam de ler o último romance lançado querem corrigir os conceitos de seus pais, homens de peso e caráter. Doutrinas que produziram a geração mais piedosa que viveu na face da terra são refutadas e desprezadas como pura tolice.

Nada é tão odioso para essas criaturas como o que cheira a puritanismo. O narizinho de cada um desses homens se empina celestialmente ao ouvir o som da palavra “puritano”, embora seja verdade que se os puritanos estivessem aqui de novo, eles não ousariam tratá-los arrogantemente; pois quando estes lutavam, logo ficavam conhecidos como Ironsides, e seu líder dificilmente poderia ser chamado de tolo, mesmo por aqueles que o estigmatizavam como “tirano”. Cromwell e seu seguidores não eram pessoas de mente fraca, não é mesmo? Estranho que tenham sido louvados às alturas pelos mesmos homens que menosprezam seus verdadeiros sucessores, crentes na mesma fé. Mas onde se encontra a infalibilidade? “O abismo diz: ‘Em mim não está’” (Jó 28.14), contudo aqueles que não têm nenhuma profundidade querem que imaginemos que está neles ou esperam encontrá-la por meio da mudança perpétua.

Devemos crer agora que os eruditos possuem a infalibilidade? Ora, fazendeiro Smith, amanhã cedo, depois de ler sua Bíblia e se deleitar com suas promessas preciosas, você deve descer a rua para perguntar ao homem de erudição, lá na casa pastoral, se essa porção da Bíblia pertence à parte inspirada da Palavra ou se é de fonte duvidosa. É bom você saber se foi escrita pelo Isaías original ou pelo segundo dos “dois Obadias”. Toda possibilidade de certeza é transferida do homem espiritual para uma classe de pessoas cuja erudição é pretensiosa e nem mesmo simula espiritualidade.

Aos poucos ficamos tão cheios de dúvidas e críticas, que apenas uns poucos, mais profundos, saberão o que é ou não Bíblia e determinarão todo o resto para nós. Não tenho fé na misericórdia deles nem em sua precisão teórica: eles nos tirarão tudo que estimamos como mais precioso e orgulhar-se-ão desse ato cruel. Não suportaremos esse reinado de terror, pois ainda cremos que Deus se revela a inocentes bebês mais do que aos doutos e prudentes, além de estarmos plenamente confiantes de que nossa versão das Escrituras é suficiente para homens simples em todos os propósitos de vida, e de salvação e de religiosidade. Não desprezamos o saber, mas nunca diremos sobre a cultura ou a crítica: “Eis aí os seus deuses, ó Israel!” (Êx 32.4).

Você percebe por que os homens querem diminuir o grau de inspiração da Escritura Sagrada a uma quantidade infinitesimal? Porque para eles a verdade de Deus deve ser suplantada. Se você for a uma loja à noite para comprar alguns itens que dependem da cor e da textura, não seria melhor julgá-las à luz do dia? E, quando você entrar, se o comerciante diminui o lume ou tira o lampião, e depois lhe mostra a mercadoria, você fica desconfiado e conclui que ele quer lhe vender um artigo inferior. Tenho mais do que suspeita de que esse é o joguinho dos depreciadores da inspiração bíblica. Sempre que uma pessoa começa a baixar a visão que você tem sobre a inspiração, ela tem uma segunda intenção, um truque que não pode ser feito na claridade. Ele alega ser uma sessão de espíritos maus e pede: “Diminuam a luz”. Nós, irmãos, estamos dispostos a atribuir à Palavra de Deus toda a inspiração que lhe possa ser atribuída e, corajosamente, dizemos que se nossa pregação não está de acordo com essa Palavra é por que não há luz nenhuma em nossa pregação. Queremos ser experimentados e testados por isso de todas as maneiras e contamos com os mais nobres de nossos ouvintes, aqueles que examinam as Escrituras diariamente, para ver se as coisas são assim, mas não nos sujeitamos nem por um momento àqueles que depreciam a inspiração.

Ouço alguém dizer: “Mas você precisa se sujeitar às conclusões da ciência, não é?”. Ninguém está mais pronto do que nós para aceitar osfatos evidentes da ciência. Mas o que você quer dizer com ciência? Essa coisa chamada “ciência” é infalível? Será que o nome ciência não é utilizado de forma enganosa? A história da ignorância humana que se denomina a si mesma “filosofia” é absolutamente idêntica à história dos tolos, exceto quando se desvia para loucura. Se outro Erasmo surgisse e escrevesse a história da tolice, ele deveria dedicar vários capítulos à filosofia e à ciência, e esses capítulos seriam mais reveladores do que quaisquer outros. Eu mesmo não ouso dizer que, no geral, os filósofos e cientistas são tolos; mas permitiria que falassem uns dos outros, e no fim eu diria: “Senhores, vocês são menos elogiosos um em relação ao outro do que eu teria sido”.

Deixaria os sábios de cada geração falarem da geração que os antecedeu, ou hoje cada metade de uma geração poderia falar da meia-geração anterior, pois pouca teoria da ciência de hoje sobreviverá por vinte anos e menos ainda verá o século XX. Agora viajamos em tão rápida velocidade que passamos por conjuntos de hipóteses científicas tão depressa como passamos por postes de telégrafo quando viajamos em um trem expresso. Tudo de que estamos certos hoje é o seguinte: aquilo de que os doutos tinham certeza há poucos anos está agora jogado no limbo do esquecimento de erros descartados. Eu creio na ciência, mas não naquilo que é chamado “ciência”. Nenhum fato provado na natureza é oposto à revelação. Não podemos reconciliar com a Bíblia as bonitas especulações dos pretensiosos, e não o faríamos se pudéssemos.

Sinto-me como o homem que disse: “Posso entender em algum grau como esses grandes homens descobriram o peso das estrelas, a distância que têm uma da outra e até como, pelo espectroscópio, descobriram de que materiais são compostas; mas não posso adivinhar como descobriram seus nomes”. Apenas isso. A parte fantasiosa da ciência, tão valorizada por tantos, é o que não aceitamos. Essa é a parte importante para muitos–aquela parte que é mera adivinhação, pela qual lutam com unhas e dentes. A mitologia da ciência é tão falsa como a dos pagãos, mas é assim que se faz um deus. Repito, os fatos da ciência nunca estão em conflito com as verdades da Sagrada Escritura, mas as deduções extraídas desses fatos e as invenções classificadas como fatos são opostas à Escritura, e isso por que necessariamente o que é mentira não concorda com a verdade.

Dois tipos de indivíduos têm forjado grande dano, contudo, nenhum desses deve ser considerado como juiz no assunto: ambos são desqualificados. É essencial que um juiz conheça os dois lados da questão, e nenhum destes tem esse conhecimento. O primeiro é o cientista sem religião. O que ele sabe sobre religião? O que pode saber? Ele está fora de lugar quando a pergunta é: a ciência concorda com a religião? Obviamente, aquele que pode responder essa pergunta precisa conhecer os dois lados da questão. O segundo é um homem melhor, mas capaz de causar mais dano ainda. Refiro-me ao cristão não-cientista que se preocupará em conciliar a Bíblia com a ciência. É melhor que ele deixe isso de lado e não comece seu conserto. O erro foi cometido por homens que ao tentar resolver uma dificuldade distorceram a Bíblia ou a ciência. Essa solução logo foi considerada errônea, e depois ouvimos os clamores de que a Escritura foi derrotada.
Nada disso; de forma alguma. Isso não passa de um comentário inútil que foi removido como um verniz inútil. Eis aí, um bom irmão escreve um tremendo livro para provar que os seis dias da criação representam seis grandes períodos geológicos e mostra como as camadas geológicas, e os organismos delas, seguem a ordem da história da criação de Gênesis. Pode ser assim ou não, mas se depois de pouco tempo qualquer pessoa mostrar que as camadas não estão em tal ordem, qual seria minha resposta? Eu diria que a Bíblia nunca ensinou que estão nessa ordem. A Bíblia diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1). Isso deixa qualquer espaço de tempo para as eras de fogo e períodos de gelo e tudo isso antes do estabelecimento da presente era do homem.

Depois, chegamos aos seis dias em que o Senhor fez os céus e a terra e descansou no sétimo. Nada é dito sobre longos períodos de tempo, ao contrário, “a tarde e a manhã; esse foi o primeiro dia” (Gn 1.5), e “a tarde e a manhã; esse foi o segundo dia” (Gn 1.8); e assim por diante. Não apresento nenhuma teoria, simplesmente digo que se o grande livro de nosso amigo é todo lorota, a Bíblia não é responsável por isso. É verdade que sua teoria parece ter suporte no paralelismo que descobre entre a vida orgânica das eras e aquela dos sete dias, mas isso pode ser explicado pelo fato de que Deus geralmente segue uma certa ordem, quer opere em longos quer em curtos períodos. Não sei e não me importo tanto com a questão; mas devo dizer, se você derruba uma explicação não pode imaginar que prejudicou a verdade bíblica, que lhe pareceu exigir uma explicação: você só queimou as estacas de madeira, com as quais homens bem intencionados pensavam proteger um forte invencível que não precisava de tal defesa.

No geral, é melhor deixarmos a dificuldade como está, em vez de criar outra dificuldade com nossa teoria. Por que fazer um segundo furo na chaleira para remendar o primeiro? Especialmente, quando o primeiro furo não está lá e não precisa de nenhum remendo. Creia, não há muita coisa provada na ciência. Não precisa temer que sua fé seja sobrecarregada. Assim, creia em tudo que está dito claramente na Palavra de Deus, quer seja provada por evidência exterior quer não. Nenhuma prova é necessária quando Deus fala. Se ele o disse, isso é prova suficiente.

Mas nos ensinam que devemos desistir de parte de nossa teologia antiquada para salvar o restante. Viajamos em uma carruagem pelas estepes da Rússia. Os cavalos são impulsionados furiosamente, mas os lobos se aproximam! Você não vê seus olhos de fogo? O perigo é iminente. O que fazer? Propõe-se que joguemos uma criança ou duas. Até que comam a criança, já teremos ganhado um pouco de distância, mas o que faremos se nos alcançarem de novo? Ora, bravo homem, jogue fora sua esposa! ’O homem dará tudo que tem por sua vida’; lance fora quase toda a verdade na esperança de salvar uma. Jogue fora a inspiração, e deixe que os críticos a devorem. Jogue fora a eleição e todo o velho calvinismo; faremos uma festa caprichada para os lobos, e os senhores que sagazmente nos aconselharam ficarão felizes ao ver as doutrinas da graça arrancadas uma por uma. Lance fora a depravação natural, o castigo eterno e a eficácia da oração. A carruagem ficou bem leve. Agora, mais uma coisa para jogar fora. Imole o grande sacrifício! Acabe com a expiação!

Irmãos, esse conselho é vil, assassino; escaparemos desses lobos com tudo ou estaremos perdidos com tudo. Deve ser “a verdade, toda a verdade e nada além da verdade”, ou nada. Nunca tentaremos salvar metade da verdade, lançando fora qualquer parte dela. O “sábio” conselho que nos foi dado envolve trair Deus e desapontar a nós mesmos. Ficaremos firmes, ou tudo ou nada. Dizem que se desistirmos de alguma coisa, os adversários também desistirão de algo, mas não nos importa o que eles farão, pois não temos nem um pouco de medo deles. Eles não são os conquistadores imperiais que pensam ser. Não exigimos clemência pela insignificância deles.

Temos o pensamento do guerreiro a quem ofereceram presentes para comprá-lo e a quem disseram que se aceitasse tanto ouro ou território, ele poderia voltar para casa em triunfo e se gloriar no ganho fácil. Mas ele disse: “Os gregos não dão valor a concessões. Encontram glória não em presentes, mas em espólio”. Com a espada do Espírito manteremos toda a verdade como nossa e não aceitaremos parte dela como concessão dos inimigos de Deus. Manteremos a verdade de Deus como a verdade de Deus, e não a reteremos por que a mente filosófica permite fazer isso. Se os cientistas concordam que creiamos em uma parte da Bíblia, não os agradeceremos por nada: já cremos nela quer queiram quer não. O consentimento deles não tem mais conseqüência para nossa fé que a permissão de um francês para que um inglês defenda Londres, ou que o consentimento da toupeira para que a águia tenha uma visão perspicaz. Deus estando conosco, não cessaremos esse gloriar, manteremos toda a verdade revelada até o fim.

Mas agora, irmãos, apesar de manter essa primeira parte de meu tema, talvez longa demais, eu lhes digo que crendo nisso, aceitamos a obrigação de pregar tudo que está na Palavra de Deus até onde vemos. Não queremos esquecer voluntaria-mente qualquer porção da revelação de Deus, pois queremos poder dizer no final: “Não deixamos de lhes transmitir todo conselho de Deus”. Que mal pode haver em se deixar de fora qualquer porção da verdade ou acrescentar um elemento alheio a ela! Todos os homens bons concordarão quando digo que a adição do batismo infantil à Palavra de Deus–, pois certamente não está lá–é um perigo. Regeneração batismal anda nos ombros do pedobatismo. Agora falo do que conheço.

Tenho recebido cartas de missionários, não-batistas, mas weslianos e congregacionais que me têm dito: “Depois que estive aqui (não mencionarei as localidades para não pôr os bons homens em dificuldades) encontramos um grupo de pessoas, filhos de ex-convertidos, que foram batizados e, por isso, são chamados de cristãos; mas não são nem um pouquinho melhores do que os pagãos a sua volta. Parecem pensar que são cristãos por causa de seu batismo, mas, ao mesmo tempo, sendo considerados cristãos pelos pagãos, sua vida má é escândalo perpétuo e uma terrível pedra de tropeço”. Em muitos casos, isso deve ser verdade. Uso o fato apenas como ilustração.

Mas supondo que seja algum outro erro inventado ou alguma grande verdade negligenciada, acabará por produzir o mal. No caso das terríveis verdades que conhecemos como “o terror do SENHOR” (2Cr 14.14), sua omissão produz os mais tristes resultados. Um homem bom que não aceitamos que esteja ministrando exatamente a verdade sobre esse assunto sério, não obstante, tem muito fielmente escrito para os jornais repetidas vezes, dizendo que a grande fraqueza do púlpito moderno é ignorar a justiça de Deus e o castigo do pecado. Seu testemunho é verdadeiro, e o mal que ele aponta é incalculavelmente grande. Não se pode omitir essa parte da verdade que é tão obscura e solene, sem enfraquecer a força de todas as outras verdades que pregamos. Você rouba o brilho e a importância premente das verdades que tratam da salvação da ira vindoura.

Irmãos, não omitam nada. Tenham ousadia suficiente para pregar a verdade indigesta e impopular. O mal que fazemos acrescentando ou tirando da Palavra do Senhor pode não acontecer em nossos dias; mas se chegar à maturidade em outra geração seremos igualmente culpados. Não duvido que, mais tarde, a omissão de certas verdades pela igreja primitiva levou a sério erro, enquanto certas adições na forma de ritos e cerimônias, que pareceram bastante inocentes em si, levaram ao ritualismo e depois à grande apostasia do romanismo! Tenham muito cuidado. Não passem uma polegada além da linha da Escritura, e não fiquem uma polegada aquém dela.

Conservem-se na linha reta da Palavra de Deus, até onde o Espírito Santo lhe ensinou e não retenham nada que ele lhe tenha revelado. Não seja tão ousado a ponto de abolir as duas ordenanças que o Senhor Jesus estabeleceu, embora alguns tenham se aventurado nessa grave presunção; nem exagere aquelas ordenanças em canais inevitáveis de graça, como supersticiosamente outros têm feito. Mantenha-se na revelação do Espírito. Lembre-se, você terá que prestar contas e não será com alegria se tiver brincado falsamente com a verdade de Deus. Lembre a história de Gilipo, a quem Lisandro confiou sacos de ouro para levar às autoridades da cidade. Os sacos estavam amarrados e lacrados, Gilipo achou que se cortasse a parte de baixo dos sacos poderia tirar uma parte das moedas, depois costurar o fundo de novo, assim os lacres não seriam quebrados e ninguém suspeitaria que o ouro fora tirado. Para seu horror e surpresa, havia um papel em cada saco declarando quanto deveria conter, e assim ele foi descoberto.

A Palavra de Deus tem cláusulas auto-verificadoras, de modo que você não pode sumir com uma parte dela, sem que o restante do texto o acuse e sentencie. Como você responderá “naquele dia” se tiver acrescentado ou tirado da Palavra do Senhor? Não estou aqui para decidir o que você deve considerar ser a verdade de Deus; mas seja o que você julgar que seja, pregue-a toda, definitiva e claramente. Se formos igualmente honestos, diretos, e tementes a Deus, não devemos discordar em muita coisa. O caminho para alcançar a paz não é o da ocultação de convicções, e sim o da expressão honesta delas no poder do Espírito Santo.

Pregar tudo que está na Palavra de Deus, de modo definido e distinto
 
Mais uma palavra. Aceitamos a obrigação de pregar tudo que está na Palavra de Deus, de modo definido e distinto. Será que não há muitas pessoas que pregam sem significado claro, manuseando a Palavra de Deus de maneira enganosa? Você freqüenta o ministério deles durante anos e não sabe no que crêem. Ouvi falar de certo pastor cauteloso, a quem um ouvinte perguntou: “Qual é sua visão da expiação?”. E ele respondeu: “Meu caro senhor, justamente isso, eu nunca contei a ninguém, e não vou dizer agora”. Essa é uma estranha condição moral para a mente de um pregador do evangelho. Temo que ele não seja o único que tem esse tipo de relutância. Dizem que eles consomem sua própria fumaça, isto é, guardam suas dúvidas para o consumo caseiro. Muitos não ousam dizer no púlpito o que dizem sub rosâ (em particular) em uma reunião particular de pastores. Isso é honesto?

Temo que aconteça com alguns o mesmo que se deu com um professor de uma cidade do sul dos Estados Unidos. Um grande professor negro antigo, Jasper, ensinara seus alunos que o mundo é plano como uma panqueca, e que o sol o circula todos os dias. Não tivemos essa parte de seu ensino, mas certas pessoas sim, e um deles foi com seu filho até o professor e perguntou: “Você ensina às crianças que o mundo é redondo ou plano?”. O professor cautelosamente respondeu: “Sim”. O indagador ficou confuso, mas pediu uma resposta mais clara: “Você ensina seus alunos que o mundo é redondo ou que é plano?”. A resposta do professor estado-unidense foi: “Isso depende da opinião dos pais”. Desconfio que mesmo na Grã-Bretanha, em alguns poucos casos, muito depende da tendência do diácono principal, ou do contribuinte principal ou do jovem de ouro da congregação. Se isso acontece, o crime é repugnante.

Mas se por essa ou qualquer outra razão ensinamos com língua dissimulada, o resultado é extremamente prejudicial. Ouso citar aqui uma história que ouvi de um amado irmão. Um pedinte bateu à porta da casa de um pastor para conseguir dinheiro com ele. O bom homem não gostou muito da aparência do pedinte e lhe disse: “Eu não me interesso por seu caso e não vejo nenhuma razão especial por que você deva vir a mim”. O pedinte respondeu: “Estou certo que você me ajudaria se soubesse que grande benefício tenho recebido de seu ministério abençoado”. O pastor retrucou: “E qual foi?”. O pedinte respondeu: “Ora, senhor, quando eu primeiro vim ouvi-lo não ligava nem para Deus nem para demônio, mas agora, sob seu abençoado ministério, passei a amar os dois“. Que maravilha se por causa da fala volúvel de alguns homens, as pessoas viessem a amar tanto a verdade como a mentira! As pessoas dirão: “Gostamos dessa doutrina e da outra também”. O fato é que gostariam de qualquer coisa caso um enganador esperto pusesse isso plausivelmente diante deles. Admirariam Moisés e Aarão, mas não diriam uma palavra contra Janes e Jambres.

Não nos uniremos à confederação que parece visar tal compreensão. Precisamos pregar o evangelho de modo tão distinto que as pessoas saibam o que estamos pregando. “Se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha?” (1Co 14.8). Não confunda seu povo com falas duvidosas. Alguém disse: “Bem, eu tive uma idéia nova um dia desses. Não a expandi; joguei-a fora!”. Essa é uma coisa boa para fazer com a maioria de suas idéias novas. Lance-as fora, sim, de qualquer maneira, mas veja onde você está quando o faz; porque se você lançá-las do púlpito, podem acertar alguém e ferir a fé da pessoa. Lance fora suas idéias, mas primeiro navegue sozinho em um barco por mais de um quilômetro mar adentro. Depois que você tiver jogado ali suas cruas bagatelas, deixe-as com os peixes.

Hoje, temos a nossa volta uma classe de homens que pregam Cristo e até o evangelho, mas depois eles pregam muitas outras coisas que não são verdade e assim destroem todo o bem que entregam e levam os homens ao erro. Eles querem ser classificados como “evangélicos” e, na verdade, são antievangélicos. Olhe bem para esses senhores. Ouvi dizer que uma raposa, quando acossada de perto pelos cães sabe fingir que é um deles e corre com a matilha. Isso é o que certos homens visam hoje: as raposas querem passar por cães. Mas no caso da raposa, seu cheiro forte a trai, e os cães logo a descobrem, do mesmo modo, o cheiro da doutrina falsa não é facilmente ocultado, e a presa não a segue por muito tempo. Há ministros que é difícil saber se são cães ou raposas; mas todos os homens devem saber de que espécie somos ao longo de nossa vida e não ter dúvida em relação àquilo que cremos e ensinamos. Não hesitemos em falar nas palavras mais robustas que possamos encontrar e nas sentenças mais claras que pudermos formar aquilo que mantemos como verdade fundamental.

Assim, disse tudo isso e ainda estou no primeiro tema, portanto, os outros dois precisam ocupar menos tempo, embora eu julgue que sejam de primeira importância.
FONTE: Shedd Publicações
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